quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

3.2 MOVIMENTO ANTIVIVISSECCIONISTA


3.2 MOVIMENTO ANTIVIVISSECCIONISTA
           Visando à amenização do impacto negativo da experimentação animal, W.M.S. Russel e R.L. Burch divulgaram, em 1959, o “princípio dos 3 R’s” (“replacement” - substituição; “reduction”  - redução; “refinement” - refinamento) no livro “The principle of humane experimental technique”(LEVAI, 2004).
A “substituição” sugere a utilização dos métodos alternativos, enquanto a “redução” sugere a diminuição da quantidade de pesquisas e do número de animais empregados e o “refinamento” recomenda o aprimoramento das técnicas utilizadas objetivando reduzir a dor e o sofrimento animal (HAMPSON, 1989).
Na verdade, esta doutrina foi criada em 1954 por Charles Hume, fundador da UFAW (Universities Federation for Animal Welfare), com o objetivo de desenvolver técnicas humanitárias para a experimentação animal (GREIF e TRÉZ, 2000).
A referida doutrina serviu para acalmar a opinião pública, porém, na opinião dos antivivisseccionistas, funcionou como um “escudo protetor” dos vivissectores, ou até mesmo como um engôdo, posto que a “substituição” nunca ocorrerá enquanto existirem a “redução” e o “refinamento”, os quais representam a continuidade da prática (GREIF e TRÉZ, 2000).
Contudo, a comoção internacional não cessaria, e, em Paris, na primavera de 1977, um fato fez com que os antivivisseccionistas retomassem toda a sua revolta, quando militantes de entidades protetoras dos animais mostraram ao público, por meio da imprensa, o que se passava no laboratório de neurofisiologia da Faculdade de Ciências de Jussieu, onde havia gatos com eletrodos implantados na cabeça e macacos com o crânio escalpelado, agonizando em aparelhos de contenção (ANEXO F - FIGURA 10; LEVAI, 2001).
Durante a década de 1980, o movimento para eliminar a utilização de animais nas pesquisas biomédicas cresceu em grandes dimensões, sobretudo na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, quando militantes praticaram alguns atentados contra laboratórios, biotérios, instalações universitárias e até mesmo contra carros e residências de pesquisadores. Estas ações atingiram tal magnitude, que a Associação Mundial de Medicina publicou uma declaração específica sobre a necessidade de serem estabelecidas garantias de vida para os pesquisadores e os seus familiares (GOLDIM e RAYMUNDO, 1997).
Somente nos Estados Unidos, de 1980 a 1989, tais grupos roubaram mais de 2.000 animais, resultando em um prejuízo de mais de 7 milhões de dólares em danos físicos (GOLDIM e RAYMUNDO, 2002).
O movimento internacional em prol da libertação animal continuou a crescer. O Movimento do Bem-Estar do Animal, no Canadá, está baseado em dois propósitos principais, que são a redução do sofrimento e do número de animais utilizados pela ciência e a conscientização dos próprios cientistas no sentido de refletir sobre a necessidade de utilizar animais nos seus experimentos. Como resultado, muitas pesquisas estão sendo patrocinadas para desenvolver “in vitro” o que antes era processado em animais vivos (SCHNAIDER e SOUZA, 2003).
No Brasil, a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) adota o método de Laskowski, que consiste no treinamento de técnica cirúrgica apenas em animais que tiveram morte natural (LEVAI, 2004); desta forma, a utilização de 260 a 300 cães vivos por ano foi substituída pelo uso de apenas cerca de 50 cadáveres caninos anualmente, animais doados já mortos pelos seus proprietários e que, uma vez preparados através da utilização de uma solução especial (cuja fórmula não é patenteada e pode tranquilamente ser copiada pelas outras cerca de 100 faculdades de medicina veterinária do país), podem ser reaproveitados diversas vezes nas aulas práticas (INR, 2006).
Outros exemplos de universidades brasileiras que estão buscando o emprego de técnicas alternativas podem ser encontrados, como nos casos das que conduzem pesquisas pelo departamento de patologia envolvendo apenas o cultivo de células vivas, da Universidade Federal do Estado de São Paulo, que vem utilizando ratos de PVC nas aulas de microcirurgia e da Universidade de Brasília, que, por sua vez, tem o seu programa de farmacologia básica do sistema nervoso autônomo realizado através de simulação computadorizada (LEVAI, 2004).
Ainda assim, com todos estes exemplos promissores, a maioria dos cursos superiores da área de biomédicas não se empenha ainda na busca de substituições à experimentação animal (LEVAI, 2004).

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