quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

3. VÍTIMAS DOS BASTIDORES DO ENSINO, DA CIÊNCIA E DA INDÚSTRIA 3.1 FAUNA DE LABORATÓRIO


3. VÍTIMAS DOS BASTIDORES DO ENSINO, DA CIÊNCIA E DA INDÚSTRIA
3.1 FAUNA DE LABORATÓRIO
A indústria cosmética, a indústria farmacêutica, os centros de pesquisas e as faculdades da área de biomédicas são os grandes altares cientificistas em que o destino de muitos animais é sacramentado (LEVAI, 2004).
“Vivissecção”, “experimentação animal”, “pesquisas em animais”, “testes em animais” são nomes diferentes para uma mesma finalidade: cortar, queimar, envenenar, torturar e enlouquecer animais vivos com o intuito de prevenir ou curar males em seres humanos. Muitos indivíduos reagem com indiferença ao ouvir estas palavras, pois consideram a prática “um mal necessário”; afinal, foram educados para acreditar que este seja o único modo possível para aprimorar a saúde humana (INR, 2006).
Mas, na realidade, diversos estudos representam apenas a constatação de fatos que já são consenso na área da saúde. Por exemplo, há experimentos no campo odontológico nos quais macacos, cães e camundongos recebem somente açúcar como alimento durante três semanas e/ou têm bactérias introduzidas nas suas cavidades orais para provocar a decomposição dentária e receber então tratamentos, quando já existem milhões de seres humanos com tais problemas necessitando de correções; ademais, a causa das cáries e dos outros distúrbios dentários já é de amplo conhecimento geral, pois envolve o conhecido binômio falta de higiene e dieta inadequada (LEVAI, 2001).
Outros estudos de efeitos previamente mais do que conhecidos são aqueles em que animais são forçados a inalar fumaça de cigarro (ANEXO F - FIGURA 1) ou ingerir álcool para o estudo das consequências das suas substâncias no organismo (GREIF e TRÉZ, 2000).
Ademais, é sabido que testes cruentos em que cães são mantidos presos em equipamentos de contenção e forçados a inalar fumaça de cigarro durante meses nunca conseguiram produzir câncer de pulmão, doença crônica que acomete o ser humano e não os canídeos. No entanto, muitos pesquisadores insistem em continuar tentando provocar esta enfermidade em cães (GREIF e TRÉZ, 2000).
O exemplo anterior reforça a tese antivivisseccionista de que muitas conclusões provenientes de estudos envolvendo animais não são transponíveis aos seres humanos e vice-versa, uma vez que se tratam de espécies diferentes (VERGARA, 2001).
Assim, além de provocar dor e angústia nos animais utilizados como cobaias, muitas vezes a experimentação animal mostra-se ineficaz, uma vez que homens e animais, apesar das semelhanças morfológicas, apresentam realidades orgânicas distintas (LEVAI, 2004).
Há autores que veem a experimentação animal como único meio de obtenção de provas e conquistas científicas baseando-se apenas nos experimentos da ciência que obtiveram sucesso desta forma, como a criação do soro antiofídico e da insulina, do interferon e do GH sintéticos (FIORILLO, 2008).
Muitas vezes, contudo, os cientistas equivocam-se, como quando insistem em utilizar métodos retrógrados de pesquisa mesmo quando já há disponíveis novos caminhos. Ainda assim, a legislação ambiental brasileira enaltece o fulgor das atividades de cunho científico em detrimento do bem-estar animal (TRÉZ, 2009). Por exemplo, o artigo 14 da Lei 5.197/67 permite a denominada “caça científica” no Brasil ao estabelecer que cientistas podem coletar livremente “material” para fins científicos (FIORILLO, 2008).
Novamente, em nome da ciência, os animais são tratados como objetos de uso descartável; no ambiente acadêmico, são chamados de “peças” (INR, 2006), e, pelos legisladores, são vistos simplesmente como “material” (FIORILLO, 2008).
Estes animais são mesmo encarados como meros objetos de estudo; além das denominações “peças” e “material”, são chamados também de “produtos” ou “modelos”; e as suas vidas podem começar, desenrolar-se e terminar dentro de um mesmo laboratório, muitas vezes dentro de uma mesma sala em que outros experimentos estejam ocorrendo (INR, 2006).
Desta forma, os pesquisadores sentem-se muitas vezes “senhores da vida e da morte”, não podendo os animais defender-se do experimento a ser realizado e da ignorância científica e técnica do profissional responsável (Schnaider e Souza, 2003).
No campo acadêmico, ocorre completa banalização dos animais durante os procedimentos cirúrgicos. O anestésico não tem uma ação constante no organismo do animal, e o seu efeito vai passando com o tempo da experiência. Uma nova aplicação deve ser realizada assim que o animal começar a recobrar a consciência. Uma dose muito elevada de anestésico pode matar o animal, o que só é feito após o experimento. Desta forma, é comum que os estudantes não acertem a dosagem necessária de anestésico durante o procedimento, e continuem a sua atividade em animais que não param de gritar (TRÉZ, 2009).
Porém, na verdade, apenas cerca de 15% dos experimentos são realizados com o emprego de algum tipo de anestesia (a qual, conforme explicitado no parágrafo anterior, muitas vezes é administrada de forma inadequada). Os pesquisadores que não utilizam anestesia na experimentação animal, contrariando a legislação, alegam que os anestésicos podem “comprometer” os objetivos do estudo, alterando, por exemplo, a frequência cardíaca normal. Nestes casos, o procedimento da contenção é o mais utilizado, em aparelhos produzidos especialmente para este fim (ANEXO F - FIGURAS 4 e 9; LIMA, 1995).
Em linhas gerais, as finalidades dos experimentos realizados com animais nas universidades brasileiras são as seguintes (TRÉZ, 2009):
- Observação de fenômenos fisiológicos e comportamentais a partir da administração de drogas e outras substâncias.
- Estudos comportamentais de animais em cativeiro.
- Conhecimento da anatomia interna.
- Desenvolvimento de habilidades e técnicas cirúrgicas.
Estes experimentos são desenvolvidos nos cursos de medicina humana e veterinária, biologia, odontologia, psicologia, nutrição, educação física, química, enfermagem, farmácia e bioquímica, e, eventualmente, em outras áreas das ciências biológicas e da saúde (TRÉZ, 2009).
Nos biotérios brasileiros três espécies são mais utilizadas para o estudo experimental, todas pertencentes aos mamíferos; o rato é o animal mais usado para pesquisa pelo porte e pela quantidade; o coelho é muito utilizado pela mansidão e pela facilidade de manuseio e o cão é escolhido pelo porte e pela constituição anatômica (SCHNAIDER e SOUZA, 2003).
O Beagle é a raça canina mais utilizada para a vivissecção porque apresenta temperamento dócil e o seu tamanho permite fácil manipulação. Comumente, cães desta raça são forçados a inalar substâncias em testes realizados por laboratórios terceirizados, procedimento repetido durante vários meses. Mesmo quando eles sobrevivem após o período final do experimento, são mortos e têm os seus órgãos analisados para a verificação dos efeitos causados pelas substâncias inaladas. A Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, por exemplo, orgulha-se em possuir um canil próprio de beagles para testes. Até mesmo ingestão de urânio já foi testada nesta dócil raça (INR, 2006).

Os experimentos acadêmicos mais comuns a que cães em geral e diversos outros animais estão sujeitos são os seguintes (TRÉZ, 2009):
1. Miografia: é retirado da perna de uma rã ainda viva, anestesiada com éter, um músculo esquelético, geralmente o zigomático, sendo registrada em gráficos a sua resposta fisiológica a estímulos elétricos.
2. Sistema nervoso: uma rã é decapitada e um instrumento pontiagudo é introduzido repetidamente na sua espinha dorsal, observando-se o movimento dos músculos esqueléticos do restante do corpo.
3. Sistema cardiorespiratório: um cão é anestesiado, tem o seu tórax aberto e observados os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida, drogas como a adrenalina e a acetilcolina são injetadas para a análise da resposta dos movimentos cardíacos. Diversas outras intervenções ainda podem ser efetuadas. O experimento cessa com a aplicação de uma dose elevada de anestésico ou acetilcolina, para causar parada cardíaca e a consequente morte do animal.
4. Anatomia interna: diversos animais podem ser utilizados para esta aula. Geralmente os animais são sacrificados como parte do exercício, com éter ou aplicação intravenosa de substâncias letais.
5. Estudos psicológicos: animais como ratos, porquinhos da índia e pequenos macacos costumam ser utilizados para experiências como privação de alimentos ou água, experimentos com cuidado materno (em que a prole é separada da genitora) e indução de estresse com choques elétricos. Alguns animais são mantidos durante toda a sua existência em condições de experimentos, enquanto outros são sacrificados após condições extremas de sofrimento.
6. Habilidades cirúrgicas: diversos animais podem ser utilizados para estas práticas. Os animais geralmente estão vivos e anestesiados enquanto as práticas ocorrem. Os exercícios de técnica operatória são comuns em faculdades de medicina veterinária e humana, e exigem uma grande quantidade de animais.
7. Farmacologia: geralmente pequenos mamíferos, como ratos ou camundongos, recebem injeções intravenosas, intramusculares ou diretamente no estômago de drogas. Os efeitos são visualizados e registrados. Doenças também costumam ser induzidas em animais, com a finalidade de testar os efeitos de substâncias para tratamentos (ANEXO F - FIGURA 5).
Para finalidades comerciais, também produtos finalizados e os seus ingredientes, do mesmo modo que os medicamentos, são testados em cães, ratos, camundongos, hamsters, coelhos, porquinhos da índia, porcos e muitas outras espécies animais. Se os animais não morrem em consequência dos testes, são mortos e têm os seus órgãos analisados (INR, 2006).
No campo das vacinas, a sorologia é responsável pela condução de diversas técnicas experimentais em cavalos, que, confinados em estábulos, recebem doses de veneno de cobra a cada cinco dias. Após um mês, quando, então, os seus organismos já padeceram em uma tentativa de reagir ao veneno que lhes foi inoculado, retiram-lhes de 6 a 8 litros de sangue em intervalos de 48 horas. Por terem de suportar inoculações de veneno e sangrias tão frequentes, estes cavalos apresentam uma existência abreviada e sofrida. O martírio de tais animais poderia ser completamente evitado investindo-se na produção de soro sintetizado em laboratório (ANEXO F - FIGURA 7; LEVAI, 2004).
No campo industrial, muitos experimentos são conduzidos por motivos absolutamente fúteis e desnecessários, como aqueles em que animais são cegados para a produção de artigos como canetas, batons e shampoos (ANEXO F - FIGURA 4) e os que utilizam animais vivos para testes de colisão automobilística (GREIF e TRÉZ, 2000).
Há ainda experimentos envolvendo animais que nem sequer contribuem para o bem-estar da humanidade, como testes com armamentos em geral e testes balísticos (nos quais os animais são o alvo), testes de radiação, testes com gases letais, testes biológicos e provas de exposição ao efeito de bombas (GREIF e TRÉZ, 2000).
Os animais são também submetidos a diversos tipos de testes para a avaliação da toxicidade de praticamente todas as substâncias para o consumo humano, como produtos de limpeza, substâncias químicas, pesticidas, herbicidas, fertilizantes, cosméticos, aditivos alimentares (corantes, aromatizantes, conservantes, estabilizantes...), equipamentos médicos e produtos que emitem radiação (celulares, fornos de micro-ondas...) (INR, 2006).
Nestes testes, que são normalmente conduzidos sem a administração de qualquer tipo de anestésico (pela supracitada explicação de que poderiam interferir nos resultados), os animais são forçados a ingerir ou inalar substâncias ou têm a sua pele raspada para que os produtos sejam aplicados sobre ela, ou mesmo colocados nos seus olhos (ANEXO F - FIGURAS 2, 3 e 4). Os produtos também podem ser administrados através de injeção intravenosa, intramuscular ou subcutânea. Para tais testes, os animais têm, obrigatoriamente que ser contidos, pois os procedimentos são dolorosos e invasivos (ANEXO F - FIGURA 9). Para isto, eles são trancafiados em câmaras de inalação, forçados a usar máscaras e a receber substâncias através de uma sonda no nariz. A substância pode ser administrada de uma só vez, durante muitos meses, ou até mesmo durante toda a vida do animal (INR, 2006).
Dentre os testes mais cruéis empregados na experimentação animal, destaca-se o “DL 50”, ou “dose letal 50%”, que consiste na inoculação forçada de uma determinada substância com o objetivo de verificar qual a dose tóxica necessária para matar 50% dos animais da amostra; o produto testado é liberado para a comercialização se a metade dos animais sobreviver ao seu efeito (LEVAI, 2004).
Outros testes comumente conduzidos são os de irritabilidade cutânea e ocular (ANEXO F - FIGURAS 2, 3 e 4), toxicidade, mutagenicidade (mutação genética), carcinogenicidade (efeitos cancerígenos), teratogenicidade (efeitos sobre os fetos), problemas reprodutivos, fototoxicidade (toxicidade provocada por raios ultravioleta) e alterações sensoriais (ANEXO F - FIGURA 8). E, obviamente, os efeitos sobre os animais vão de vômitos, diarréias, tonturas, tremores, letargia, perda de apetite, convulsões, paralisia, hemorragia à morte (INR, 2006).
O “Draize Eye Test” é um procedimento experimental que consiste na aplicação de artigos como shampoos, cosméticos e produtos de limpeza nos olhos de coelhos presos a aparelhos de contenção para testar a irritação ocular provocada pelas suas fórmulas (ANEXO F - FIGURA 4; LEVAI, 2004).
O coelho albino é o animal mais utilizado para os referidos testes oculares não por ter olhos semelhantes aos humanos, e sim porque apresenta um baixo custo e olhos grandes que não lacrimejam muito, o que favorece a ação dos produtos experimentados, sendo que as reações observadas variam de processos inflamatórios da íris e das pálpebras a ulcerações, hemorragias e cegueira (ANEXO F - FIGURA 4; GREIF e TRÉZ, 2000).
Ademais, os coelhos permanecem em intenso sofrimento em caixas especiais de contenção capazes de imobilizar a sua cabeça através de um orifício de diâmetro fixo, tipo guilhotina, e manter o seu corpo imóvel entre anteparos laterais (ANEXO F - FIGURA 4; SCHANAIDER e SILVA, 2004).
Alguns testes são conduzidos de modo a tornar os resultados claramente confusos, como os testes de toxicidade, em que os animais são forçados a ingerir volumes irreais, incrivelmente elevados, de uma substância. Por exemplo, em um teste de toxicidade de um certo branqueador dental, ratos receberam uma dose de peróxido de hidrogênio 5.900 vezes mais alta do que a dose de consumo humana. Os ratos adquiriram dificuldades de respirar, não conseguiam virar-se quando colocados deitados de costas, ficaram de olhos parcialmente fechados, desenvolveram incontinência urinária e liberaram sangue na urina. Três dos 22 animais morreram em 48 horas devido a uma hemorragia gástrica (INR, 2006).
Desta forma, em cada produto adquirido vem também o sofrimento dos animais utilizados nos testes aplicados para que a sua comercialização seja possível, ainda que existam, e sejam desconhecidos pela maioria, métodos substitutivos à prática da experimentação animal. Uma recomendação útil aos consumidores é a de não adquirir produtos de empresas que testam em animais (ANEXO E), posto que o capital arrecadado por elas ajuda a perpetuar o processo da sua tortura.

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